sábado, 21 de março de 2020

A Casa é Viva.


- Annie Carrera, Março/2020 –

A Casa é como um organismo vivo. Ela é matéria, ela é espaço, ela tem cor, ela tem cheiro e ela se move. Isso porque ela nos acolhe, a nós, seres vivos.
A casa existe através da construção espacial física, feita por nós seres humanos, a fim de atender as nossas necessidades básicas.

A criação do espaço arquitetônico é a criação do espaço vivencial, tanto para o indivíduo quanto para o meio social, onde está em permanente deslocamento de uma atividade para outra. Para cria-lo, utilizam-se os sentidos perceptivos, os sistemas visual, auditivo, tátil, cinestésico. Mas, além do espaço perceptivo e do movimento, existe a dimensão do espaço simbólico pleno de preposições e juízos de valor, criado pelo homem, no qual vive deslocando-se de um lado para outro.
É sentir o espaço, é pensar o espaço, é mover-se no espaço, é vivenciar o espaço. (OKAMOTO, 2014, pg. 101)

Mas hoje, para comentar sobre Casas, vou esquecer um pouco a Arquitetura e entrar mais no sentido afetivo do espaço construído.

O sentido afetivo (...) é o que nos faz dar sentido à vida, por meio das relações entre nós e o ambiente em que vivemos. É ele sem dúvida o mais importante nas escolhas, conscientes ou inconscientes, do comportamento humano.
Além de ver o sujeito por intermédio de suas características físicas, é preciso vê-lo também como pessoa psicológica, nas suas várias dimensões, mediante as quais ele estabelece um contato com a realidade ambiental ou social. (OKAMOTO, 2014, pg. 162)

Foto: Acervo Pessoal
Encontramo-nos no mês de Março de 2020, em dias de quarentena por conta de uma pandemia. Com isso estamos vivenciando mais intensamente nossas casas. Estamos em casa o tempo todo, todo o tempo, fazendo todas as atividades possíveis.
A casa está mais viva do que nunca!!
Percebo que muitas pessoas tem uma relação com suas residências de forma rotineira, do dia a dia corrido, num entra e sai diário, não menos intenso, mas intervindo na casa de maneira cotidiana e corriqueira.
Agora nossa relação está sendo diferente. Nossa casa, além de ser nosso abrigo e proteção está sendo nosso espaço social, de convivência e expressão da nossa liberdade. E isso pode gerar algumas angústias e conflitos. (Ou não!! Lógico que depende de como você mora, com quem você mora, onde você mora... Se gosta de ficar sozinho ou se precisa de companhia...)
Resolvi escrever este texto porque tenho pensado nas pessoas que convivem em família, com duas ou mais pessoas, com a presença de crianças ou idosos morando todos numa mesma casa. Enfim, num espaço onde as pessoas estão se relacionando e interagindo com muito mais expressividade.
Quando a gente pensa num espaço vivencial, logo pensamos na organização desse espaço a fim de que todos possam desfrutar harmoniosamente. Mas nem sempre é fácil, porque idealizamos a casa como um lugar perfeito, impecável, disciplinado, como uma capa de revista e portanto, irreal.

(...) Isso não significa que você não possa ter um modelo para se inspirar, mas precisa diferenciar o que é ideal do que é real.
Com a nossa casa é a mesma coisa. Cada família tem necessidades de espaço e de organização diferentes, assim como rotinas e usos de cada cômodo que se distinguem entre si.
Uma pessoa que mora sozinha (...) tem uma casa organizada de forma diversa da família com cinco pessoas e uma rotina que envolve alimentar filhos pequenos. (GODINHO, 2016, pg. 14)

Com essa idealização da casa, a gente vai ao encontro do que se chama espaço simbólico, onde preenchemos os ambientes com ideias e valores pré-estabelecidos que alguém em algum lugar criou e nos influenciou. Como por exemplo que, a Sala de Estar precisa ser um ambiente sempre organizado, limpo, receptivo, com as almofadas nos devidos lugares onde as pessoas vão conversar de maneira cordial bebendo um bom vinho do Porto. Ou que, a Cozinha vai estar sempre limpa com a pia sem louça para sempre que quisermos podermos preparar aquele prato especial e a mesa ajeitada com uma fruteira bem colocada ao centro. E teremos tantos outros exemplos, não é mesmo?
E a sua casa, é assim? A casa da minha avó era assim!
Ainda bem que os tempos mudaram e continuam mudando. E agora, com essa experiência, que nunca passamos antes, de termos que ficar em casa isolados do mundo lá fora, é um ótimo momento para repensarmos nossa relação com o espaço vivencial do nosso lar.
Aqui em minha casa somos três. Eu, meu marido e minha filha de 9 anos. Cada um de nós tem um comportamento distinto dentro da nossa casa. Não tem como manter tudo sempre do jeito que eu idealizo, mas exponho meus desejos e peço atenção em manter os ambientes minimamente arrumados para podermos usufruir de nossa casa de modo afetivo e harmonioso, onde todos possam participar.
Eu já fui muito mais neurótica com organização e comportamento dentro de casa. Não tem como manter a casa limpa e arrumada o tempo todo. A casa é viva, assim como nós!
A gente se movimenta, a gente come, a gente produz lixo, a gente respira, sente cheiros, solta cheiros... Enfim, quando estamos num espaço vivencial, esse espaço vive com a gente e vive como a gente. Lembrando que cada pessoa que vive nesses espaços tem personalidade, comportamento, necessidade e escolhas diferentes, é logico que a casa irá reagir de maneira diferente, mesmo estando convivendo no mesmo local.
É esse sentido afetivo que damos a esse espaço vivencial o qual estamos inseridos é que fará diferença em nosso comportamento e sentimento nesses dias de quarentena, porque além de simplesmente vermos nosso familiar ou companheiro como pessoa apenas com características físicas, é importante vermos como pessoa psicológica, com escolha e desejos, como sujeitos que sentem o espaço, pensam o espaço, movem-se no espaço e vivenciam o espaço.

#FicaEmCasa
#EstarEmCasa

Beijos virtuais a todos e todas!!!
Annie

Referências Bibliográficas:

GODINHO, Thais. Casa Organizada. São Paulo:  Gente, 2016.

OKAMOTO, Jun. Percepção Ambiental e Comportamento. São Paulo: Mackenzie, 2014.