terça-feira, 9 de junho de 2020

Hall de Entrada

Um aliado à prevenção da contaminação.

Hall é uma palavra de origem inglesa que significa a Sala de Entrada. É um espaço social de acesso que separa a edificação do ambiente externo ao interno, seja de uma casa ou de um apartamento, seja de um edifício público ou privado.
Nas residências, pode ser conhecido também como Vestíbulo e nos prédios públicos ou coletivos, pode ser chamado de Saguão.

Hall de Entrada de casa
Foto: Annie Carrera
Nessa situação atual de pandemia estamos mais preocupados com a higienização e assepsia, por isso mais atentos a esse ambiente que separa, filtra e protege nossa casa ou nosso espaço de trabalho das possíveis contaminações externas.
O Hall, por ser um ambiente social, sempre foi um espaço de recepção da casa, do edifício ou do apartamento.  
Ao longo da história da arquitetura ele sempre existiu com a função de receber as pessoas na porta de entrada e evitar que olhares estranhos penetrem no ambiente familiar. É configurado também como uma Antessala.
Usualmente é o ambiente onde se pode ter um cabideiro para as pessoas deixarem seus casacos e bolsas, um aparador ou um móvel para a colocação de chaves e objetos imediatos e ainda um espaço onde se possa ter um espelho para visualização e retoque antes de saírem de casa.
Porém, atualmente, estamos agregando funções a este Hall de entrada.
Este ambiente, a partir de agora, ganhará muito mais destaque e valorização no projeto de arquitetura. É importante entender que possuir um hall de entrada é um meio de combater a entrada de vírus e contaminações para dentro das casas e dos ambientes de trabalho.
É preciso repensar esse espaço com mais funcionalidade e não apenas com a beleza e estética. Seja na concepção inicial do projeto arquitetônico, ou como forma de adaptação desse ambiente de acesso já existente nas edificações.
Depois é necessário compor esse hall com móveis e objetos, como bancos, cestos, sapateiras e cabideiros, que auxiliem os residentes a retirada dos sapatos e pertences que circularam no ambiente externo, assim como a colocação de aparadores e acessórios indispensáveis para a desinfecção pessoal e dos artefatos vindos de fora, como especialmente, deixar em evidencia o frasco de álcool em gel.
O mundo mudou e precisamos ir ao encontro desses novos hábitos, onde esses espaços de acessos serão mais funcionais e preocupados com a higiene, assim como é muito comum no Japão, os chamados Genkan.
Genkan é a área de entrada tradicional das casas e prédios japoneses que possui um tapete onde deve-se retirar os sapatos. Sua principal função é evitar que as sujeiras da rua que ficaram no sapato entrem dentro da casa ou de certos edifícios, sejam escolas, prédios governamentais, restaurantes tradicionais e até mesmo algumas empresas construídas em estilo antigo.
Algumas dessas transformações, restrições e cuidados higiênicos já estão se tornando comum em nosso comportamento e já estão sendo absorvidas em nosso dia a dia e por isso devem permanecer mesmo depois da pandemia.

Mesmo que isso tudo tenha sido uma ruptura repentina em nossos modos de vida, esse novo Coronavírus nos apresentou uma nova forma de encararmos o mundo. Estamos redefinindo o conceito de ‘normalidade’ e isso reflete principalmente na maneira como nos relacionamos com o mundo e com a nossa própria casa, além do desafio de aprender a lidar com um futuro relativamente desconhecido.

Junho/2020
Em meio à pandemia do Coronavirus - COVID19

Referências:




quinta-feira, 21 de maio de 2020

Reformas em Apartamentos??


Temos a ABNT 16.280/2015

Edifício - Foto Google
Está em vigor desde 2014 e revisado em 2015 a Norma Técnica 16.280 sobre “Reforma em edificações — Sistema de gestão de reformas”, principalmente para edificações verticais onde fica estabelecido os requisitos para os sistemas de gestão de projetos, controle de processos, execução e segurança da obra e da própria edificação.
Desde então, para se executar uma obra dentro de uma unidade de um condomínio vertical, o morador ou proprietário do imóvel deve obrigatoriamente apresentar ao Síndico do prédio um RRT – Registro de Responsabilidade Técnica assinado por um Arquiteto, ou ART – Anotação de Responsabilidade Técnica assinado por um Engenheiro Civil, em que os profissionais estejam devidamente registrados em seus respectivos Conselhos Federais.
Dependendo da complexidade da reforma e da legislação de cada município é necessário também entrar com processo e protocolo de Pequena Reforma junto à Prefeitura Municipal.
É preciso se atentar que qualquer obra, mesmo que pareça simples, poderá gerar riscos à segurança da edificação, porque, quando se tem um projeto original, tudo o que foi executado e instalado ali foi devidamente planejado e calculado. Portanto qualquer alteração de peso de laje, remanejamento hidráulico-elétrico, troca de revestimento, mudança de forro ou mesmo a inserção de novas estruturas, isso tudo poderá acarretar grandes oscilações estruturais e comprometer seriamente a edificação como um todo.
Por isso, ao querer iniciar uma obra para reforma de apartamento, contate um Arquiteto ou um Engenheiro, para que o profissional possa assessorar, elaborar o projeto com documentos descritivos e registrar a responsabilidade técnica, tanto para a obra (intervenção na edificação) como para a apresentação à administração do Condomínio (síndico).

Contrate um Arquiteto e transforme suas ideias em realidade!!

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Banheiro, da saúde pública à estética


Sempre pensamos no Banheiro no momento do aperto!

Esse ambiente mais íntimo de nossa casa as vezes nos passa desapercebido, mas ele sempre está lá quando precisamos fazer nossas ‘necessidades’. Será mesmo?
Nem sempre foi ou é assim.
E se pararmos para pensar na importância desse espaço, será que conseguimos imaginar como era tomar banho e fazer as necessidades fisiológicas antigamente?
O Banheiro gera um assunto muito importante a ser desenvolvido, pensado e dialogado, que vai da Arquitetura ao Urbanismo, da estética à saúde pública, que é o Sistema Sanitário.

Banheiro Social, Projeto 2019 - Campinas
Por Annie Carrera

Um pouquinho de história

Na antiguidade, por volta de 2.000 a.C, surgiram no Egito as primeiras latrinas com assento como conhecemos hoje. Na época haviam banheiros apenas para banhar-se, e outros apenas para se fazer as necessidades fisiológicas.
Na Roma antiga os banheiros eram comunitários e as pessoas sentavam lado a lado numa espécie de banco de madeira ou pedra, com buracos nos quais os dejetos eram liberados e embaixo deles passava um canal de água corrente (os aquedutos) e até mesmo esgoto, usado para carregar esses dejetos até rios distantes. Os romanos popularizaram os banhos públicos, os chamados banhos termais.
Esses encontros nos banheiros públicos promoviam interação, debates, encontros cívicos e até mesmo banquetes. Embora houvesse divisões para homens e mulheres, às vezes, ocorria o fato de não respeitarem essa separação e era muito comum ficarem nus na frente um dos outro.
Por questões culturais e religiosas com o avanço do moralismo cristão pela Europa ao longo da Idade Média, os banhos e latrinas públicos foram proibidos. Porém a grande crítica da Igreja não foi as latrinas em si, mas aos banhos públicos, onde as pessoas ficavam nuas ou seminuas. Por isso passou-se a proibir o banho regular e a frequentar esses ambientes julgados antros de safadeza por incitar a luxúria e outros pecados.
A higiene pessoal passou a ser feita com panos úmidos, sempre em ambiente privado e raramente todos os dias. Nas casas mais abastadas haviam banhos de tina, mas era comum que a família inteira se limpasse com a mesma água.
Com isso,
... ‘todos os avanços dos antigos romanos “foram pro ralo” na Europa medieval. Eles simplesmente se esqueceram de todos os sistemas desenvolvidos séculos antes, e não tinham nenhuma infraestrutura. Era comum que o esgoto corresse a céu aberto, em valas no meio das ruas. E o pior: dentro das casas não existiam banheiros. Os penicos eram utilizados por todos e esvaziados pela janela. Banheiros dentro de casa só começariam a se popularizar na Europa em 1668, quando a França instituiu uma nova legislação em Paris: o decreto determinava que todas as novas casas construídas na cidade deveriam ter esse importante cômodo.’

Banho de Tina

Foi no século 18 que prevalece a ideia de que a falta de banho causa doenças e isso faz com que, no século 19, as redes de água e esgoto das cidades comecem a prosperar. Essa evolução sanitária facilitou a instalação de banheiros familiares nas casas. No Brasil, nas residências de famílias ricas, apareceram as primeiras peças importadas de louça e ferro esmaltado. E a partir de então passamos a ter a construção do banheiro basicamente como conhecemos hoje.
E desde então a tecnologia das peças, revestimentos e instalações hidráulicas e elétricas foram se transformando e hoje, os banheiros contemporâneos buscam cada vez mais sustentabilidade, economia de água, automação, design e limpeza. E no caso dos banheiros públicos, busca-se cada vez mais acessibilidade, segurança, qualidade de vida e saúde aos usuários.

A questão sanitária

Ao longo da história da humanidade é importante pensarmos no banheiro como uma questão de saúde pública.
“Nenhuma invenção salva tantas vidas como o vaso sanitário

Não vou contar aqui a história da invenção do vaso sanitário pois é facilmente encontrada na internet, mas é muito interessante sabermos que existe o Dia Mundial do Vaso Sanitário.
A ONU, Organização das Nações Unidas com a iniciativa de Cingapura, oficializou em 2003 o dia 19 de Novembro como o Dia Mundial do Vaso Sanitário. Desde então, atividades e discussões são fomentadas para que se conscientizem os governos de todos os países sobre a importância de assegurar um saneamento adequado para toda a população.

Banheiro Público, Paris - Séc. XIX

O World Toilet Day, como é conhecido internacionalmente, ajuda a conscientizar as pessoas e os governos sobre a enorme quantidade de pessoas que não possuem acesso à um vaso sanitário limpo e com sistema de saneamento adequado.
O problema vai muito além do que ter que urinar ou defecar ao ar livre, pois a falta de saneamento básico de qualidade facilita a proliferação de doenças perigosas, como malária e a diarreia, que afeta principalmente as crianças e os recém-nascidos.

Vamos a alguns números:
  • 6 em cada 10 pessoas no mundo vivem sem sistema sanitário. Isso atinge cerca de 4,5 bilhões de pessoas.
  • 2,1 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável.
  •  Quase 1.000 crianças morrem por dia decorrentes da crise sanitária.

Crise Sanitária Mundial
Muitos parasitas e doenças como a cólera, o tifo e a poliomielite são disseminados devido à falta de sistemas seguros de saneamento. Muitos países ao redor do mundo, como por exemplo a Índia, vários países Africanos e mesmo o Brasil têm sérios problemas sanitários e dificuldade para oferecer sistemas de saneamento aos seus cidadãos.
A OMS enfatiza a importância de atender principalmente às necessidades das comunidades mais carentes e aos espaços públicos – especialmente às mulheres e meninas, para quem os banheiros significam mais do que higiene e saúde: eles são fonte de segurança e educação.

A questão cultural

Para que os objetivos e as metas de saneamento sejam atendidos, não basta só construir banheiros, é importante considerar que há uma questão cultural e de regionalidade para conscientizar as pessoas sobre a importância da higiene.
Nem sempre o modelo europeu de sistema de esgoto é viável em todo o mundo. Seja por  questões financeiras, seja por questões estruturais, porque existem regiões, por exemplo, que simplesmente não dispõem de água para esse tipo de sistema. Por isso desenvolver outras tecnologias, como de compostagem ou mesmo de fossas sépticas instaladas longe de poços e leitos mananciais são soluções possíveis. O mais importante é que os resíduos não sejam liberados diretamente no meio ambiente e que as pessoas tenham acesso a um sistema sanitário eficiente e um banheiro seguro e digno.
Assim podemos perceber que o vaso sanitário ao longo da história se transformou em objeto de extrema necessidade nas residências e nos espaços públicos, promovendo a melhoria das condições de saúde de milhões de pessoas.

As fezes humanas carregam mais de 50 doenças transmissíveis, e uma privada pode reduzir infecções em 40%. A invenção mais importante do mundo proporcionou o descarte mais eficiente de dejetos, diminuindo doenças e aumentando a qualidade e a expectativa de vida nas cidades.

Texto escrito por Annie Carrera,
Em meio à pandemia do Coronavirus - COVID-19
Maio/2020

Referências:







segunda-feira, 20 de abril de 2020

Trabalho Remoto X Home Office

*Texto publicado para Tópikos Espaço Profissional, por Annie Carrera.


Para que possamos entender e nos organizar em tempos de quarentena, fizemos esse texto para compreendermos a diferença entre Trabalho Remoto e Home Office.

Home Office não é a mesma coisa que Trabalho Remoto e vice-versa.

Home Office que traduzindo para o português significa “Escritório em Casa”, trata-se de um local onde profissionais executam suas atividades em sua própria residência. Por exemplo, um arquiteto ou advogado que possuem o escritório na própria casa e ali recebem seus clientes. O profissional não precisa se deslocar externamente para ir até o escritório, ele possui um ambiente reservado para as atividades profissionais em algum local de sua casa.

Já o Trabalho Remoto é aquele realizado à distância, mas não necessariamente precisa ser em casa. Pode ser executado em cafeterias, coworkings (escritórios compartilhados), hotéis, bibliotecas, livrarias, aeroportos e outros lugares que possuam internet. Por isso muitas pessoas que desenvolvem trabalho remoto não possuem um home office, ou seja, um escritório em casa.

Atualmente, devido ao momento da pandemia do coronavírus e a necessidade de quarentena, o Trabalho Remoto está sendo feito dentro das residências. Com isso percebemos que algumas pessoas estão desorientadas e superatarefadas com essa transferência do trabalho profissional para dentro de casa.

Quem já trabalha em Home Office talvez não esteja sentindo grandes transformações nessa quarentena com relação às atividades profissionais, a não ser o fato da necessidade de permanecer em isolamento social e restrições a acessos a serviços externos.

Para as pessoas que estão precisando trabalhar remotamente, talvez estejam se atrapalhando um pouco na rotina diária, por isso elaboramos algumas dicas de como trabalhar de casa.

Essas dicas são para aqueles que estão temporariamente com Trabalho Remoto e também para aqueles que a partir de agora queiram se instalar e trabalhar com um Home Office.

São apenas dicas, ok? Sabemos que cada um tem sua rotina trabalho e atividades diárias, mas só queremos ajudar!
  • É importante definir um local em sua casa para organizar seu espaço de trabalho. Como as distrações em casa são muitas, é importante separar o espaço de trabalho profissional das outras atividades da casa. Pode ser uma mesa num canto da sala, uma bancada no quarto ou se sua casa permitir pode ser até mesmo um ambiente destinado somente para escritório e/ou biblioteca.
  • Pense numa iluminação adequada para seu trabalho. Pode ser uma luminária de mesa, iluminação artificial ou um ambiente bem iluminado próximo a uma janela buscando a luz natural. E trabalhar em casa também precisa de luz do sol. Procure repor doses de vitamina D indispensáveis para a saúde do corpo.
  • Ergonomia. Procure ter uma cadeira e uma mesa que seja confortável e adequada à sua estrutura corporal. O computador precisa estar numa altura correta, que não precise alterar a postura da coluna e assim evitar problemas como dores nas pernas e nas costas.
  • Mantenha seu espaço de trabalho organizado. Mesmo trabalhando em casa é importante dispor de pastas e objetos para organização dos papéis e dos materiais de escritório. Crie sistemas de categorização. Nessa quarentena improvise com coisas que você tenha em casa, como, caixas, bandejas, porta lápis, pastas, etc. E não esqueça de organizar o Computador. Crie pastas para cada tipo de arquivo e assunto, assim tudo ficará mais fácil e dinâmico.
  • Definir horários para sua rotina é um dos itens mais importantes para o trabalho em casa. Criar um cronograma pré-definido com horário destinado ao trabalho profissional, trabalho doméstico, alimentação, estudo, lazer e momentos de descontração com a família. Novos conceitos estão surgindo. As empresas modernas não contabilizam a jornada de trabalho e sim as atividades executadas. E procure não estender seu horário de trabalho mais que o necessário, saiba separar vida pessoal e vida profissional.
  • A disposição pessoal faz toda diferença! Vista-se como se fosse sair para trabalhar ou fazer alguma atividade externa. Ficar de pijama dá uma preguiça... Cumpra com os horários de sono para que esteja sempre disposto e não se esqueça: beba água!
Não sabemos por quanto tempo ficaremos nessa quarentena. Por isso, cuide-se para conseguir lidar com o retorno ou... com uma mudança mais profunda da rotina como conhecemos hoje.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Nossa Cozinha


A cozinha como temos hoje, não é apenas um estilo, mas um processo histórico.

O Fogo

Elemento fascinante! Energia da vida.

A nossa casa, ou o nosso ambiente de abrigo surgiu graças ao fogo. Esse nosso reduto de proteção sempre se organizou em torno do calor.
Sabe-se que quando os homens deixaram de ser nômades e começaram a cultivar a terra, eles desenvolveram as atividades da culinária e da olaria (utensílios), os alimentos eram cozidos ao ar livre e o fogo era tido como um bem comum.
Mas manter o fogo sempre aceso era trabalhoso e feito por equipes e instrumentos criados para essa manutenção, como por exemplo, a invenção do Fole.
Vale lembrar aqui que o fósforo foi inventado somente em 1827 na Grã Bretanha!
Com o passar do tempo esse “fogo” foi levado para dentro das habitações e utilizado também como calefação, através de dutos subterrâneos, lareiras e chaminés, porém essa operação de aquecer e cozinhar criou vários inconvenientes. Como a fumaça trazia fuligem para a casa toda, as famílias mais abastadas construíam a cozinha numa edificação à parte da residência, independente do resto da casa.
A cozinha torna-se um lugar de serviço.

A cozinha brasileira

Quando os  portugueses chegaram aqui, trouxeram com eles inúmeros utensílios, desde fogões até tachos e chaleiras, inclusive o recurso da chaminé com a intenção de aquecer os ambientes. 
Porém, tão logo chegaram aos trópicos foram aos poucos incorporando a maneira indígena de cozinhar, na qual, sob uma cobertura rústica, acendia-se uma fogueira, apoiava-se o caldeirão sobre o fogo, agachava-se e começava-se a cozinhar. Eram essas ações que compunham nossas primeiras cozinhas brasileiras.
Por ser uma cozinha bem rudimentar, sem refrigeração, com animais de pequeno porte andando livremente, ficava localizada bem longe da casa, pois a noção de higiene não era a mesma que possuímos hoje.
Um tempo depois o fogão saiu do chão e se transformou em algo parecido com os fogões à lenha que conhecemos do interior do nosso país.

E a água?

A água é outro elemento indispensável na cozinha e depois de certa urbanização já estava começando a correr com mais facilidade. Foi no século 18 que as grandes cidades já contavam com aquedutos que despejavam água nos chafarizes públicos e era ali onde os escravos iam apanhá-la para o uso doméstico. Já no campo, eram implantadas canaletas de bambu do rio mais próximo até o quintal, tornando assim mais prático o trabalho diário.

Foi somente na segunda metade do século 19 que as transformações mais significativas para a arquitetura da cozinha brasileira começaram a aparecer e ficarem um pouco mais próxima do que temos ainda hoje.
Com a Revolução Industrial, as residências da elite do café, da borracha e do açúcar traziam as novidades vindas da Europa. Chegavam com certo atraso, mas chegavam.
Nessa época, surgiram na Europa os primeiros fogões a gás e, com isso, a cozinha ficou livre da fumaça e da fuligem. No Brasil, foi em 1901, no palácio do governo de São Paulo, que se instalou o primeiro fogão a gás de que se tem notícia, e a moda não demorou a pegar, aposentando de vez os velhos fogões à lenha.
No final do século 18 que surgiram os primeiros refrigeradores. Foi em 1860 que apareceram as primeiras geladeiras nos lares americanos. Não chegava a ser um eletrodoméstico e conforme descreve o arquiteto historiador Carlos Alberto Cerqueira Lemos,

“Eram armários de madeira, revestidos por dentro com cortiça e folha de flandres. Havia uma prateleira no alto, onde se apoiava a pedra de gelo (produzida em fábricas) comprada por assinatura e uma canaleta que conduzia a água do degelo para um balde. O entregador passava todo dia, bem cedinho, de porta em porta.”

A cozinha mais limpa

A torneira havia sido inventada em 1800, a construção da rede de abastecimento de água aos domicílios começou no Rio de Janeiro 76 anos depois e o surgimento dos ladrilhos hidráulicos laváveis para revestir piso e parede deixaram o preparo dos alimentos muito mais prático e higiênico e com isso não era mais preciso deixar a cozinha do lado de fora da casa.
A transformação da cozinha sempre esteve ligada aos métodos combustíveis.
Com a origem da energia elétrica, começou a era das facilidades, surgiram os primeiros eletrodomésticos: liquidificador, batedeira, torradeira. Aqui no Brasil, a primeira geladeira elétrica chegou em 1928. Então, a partir de 1930, solucionados os problemas de combustível do fogão e dos fornos, a cozinha começou a se adaptar em módulos e foi convertida em uma sala de máquinas com fogão, forno, geladeira, pia e armários. Isso tudo gerou muita transformação na arquitetura da cozinha, inclusive da brasileira.
Se até o começo do século 20 a cozinha era um lugar quente, desconfortável e de muito trabalho braçal, passou a ser um ambiente mais fresco e convidativo. Com isso, o comportamento da dona de casa também se modificou e ela começou a passar mais tempo ao redor do fogão. Por isso, a década de 1950 é o símbolo da nova cozinha, os eletrodomésticos foram popularizados e a arquitetura brasileira passou por uma grande transformação. Portanto, a cozinha se tornou uma extensão da sala de estar e surge assim a Copa Cozinha.

A cozinha da nova era

A cozinha então até podia ser bonita, porém ainda tínhamos a tradição de enxergá-la como um ambiente de serviço e, por isso, pessoas estranhas e de fora da residência não eram convidadas a conhecê-la. Esse comportamento permaneceria inalterado e começaria a desaparecer somente na década de 1980.
O que chamamos de “cozinha americana” tem como responsável o Forno Micro-ondas.
Ele foi inventado em 1946 e era comum nas casas estadunidense nos anos 1960, mas só entrou nas residências brasileiras em 1985. Então, com novos jeitos de cozinhar e não produzindo as mesmas sujeiras e odores, a cozinha não precisava mais ficar escondida!
Nos últimos 30 anos, a cozinha passou por uma revolução. De lá pra cá, com a inovação das cidades, o aperfeiçoamento industrial, a mudança nos hábitos de trabalho, automação e dinâmica profissional, a cozinha passou a ser ambiente integrado a outros espaços da casa.
Atualmente, os projetos arquitetônicos procuram compor sala de estar, cozinha e área de lazer num mesmo ambiente, porque momentos familiares, tarefas domésticas e convivência são compartilhados por todos os moradores. Os equipamentos contemporâneos são projetados a fim de proporcionar uma fácil manutenção, funcionalidade e estética. Hoje, o “calor” da cozinha é elaborado através de sensações das cores, iluminação, texturas e revestimentos, isso tudo graças à tecnologia dos materiais e evolução industrial.
Todos esses elementos juntos proporcionam essa integralidade com a casa inteira, incluindo a área externa: os Espaços Gourmets.
Um outro fator importante que podemos considerar para essa visibilidade da cozinha nos dias atuais é a função do Chef de Cozinha. Esse profissional da gastronomia conseguiu nos mostrar como pode ser prazeroso e divertido esse momento que se passa junto ao fogão. Todos nós queremos aprender com ele.
A arquitetura desfruta disso tudo e desenvolve novas ideias e conceitos para esse ambiente vivencial, desde o espaço construído até os designs dos objetos, conseguindo refletir a personalidade dos donos da casa. Essa personalidade e comportamento do morador são expressados através dos móveis, dos acabamentos, no estilo de cozinhar e na relação familiar.
A cozinha contemporânea, sendo em espaços grandes ou espaços pequenos, está integrada como ambiente social, ala de convívio, ela é o coração da casa e pode promover  união, aconchego e harmonia.

 A cozinha do Futuro

Daqui pra frente, a ideia da cozinha do futuro estará intrinsecamente ligada à tecnologia, automação e mobilidade, agregada sempre à evolução do maquinário, dos equipamentos e dos acabamentos.
Ao mesmo tempo que a cozinha se torna a protagonista da casa, fazendo-nos voltar no tempo e resgatar o desejo e a satisfação do cozinhar, ela vai ao encontro de uma novidade, que é esse convívio sociável dentro da cozinha. Ela deixa de ser somente um ambiente de necessidade e serviço doméstico e passa a ser também o espaço de prazer e lazer dentro de casa.

Por Annie Carrera
***

Referências:

LEMOS, Carlos A. C.: Casa paulista, Editora EDUSP, 1999

ZABALBEASCOA, Anatxu: Tudo sobre a casa, E-book Kindle, 2020

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/galeria/em-imagens-a-historia-da-cozinha-no-brasil.phtml

https://fabiolastrauszinteriores.com.br/evolucao-da-cozinha/

ARQ.DOC - Ep 3 | Cozinhas: Arquitetura e Afeto, https://www.youtube.com/watch?v=XZSfm0tCToM&feature=youtu.be



sábado, 21 de março de 2020

A Casa é Viva.


- Annie Carrera, Março/2020 –

A Casa é como um organismo vivo. Ela é matéria, ela é espaço, ela tem cor, ela tem cheiro e ela se move. Isso porque ela nos acolhe, a nós, seres vivos.
A casa existe através da construção espacial física, feita por nós seres humanos, a fim de atender as nossas necessidades básicas.

A criação do espaço arquitetônico é a criação do espaço vivencial, tanto para o indivíduo quanto para o meio social, onde está em permanente deslocamento de uma atividade para outra. Para cria-lo, utilizam-se os sentidos perceptivos, os sistemas visual, auditivo, tátil, cinestésico. Mas, além do espaço perceptivo e do movimento, existe a dimensão do espaço simbólico pleno de preposições e juízos de valor, criado pelo homem, no qual vive deslocando-se de um lado para outro.
É sentir o espaço, é pensar o espaço, é mover-se no espaço, é vivenciar o espaço. (OKAMOTO, 2014, pg. 101)

Mas hoje, para comentar sobre Casas, vou esquecer um pouco a Arquitetura e entrar mais no sentido afetivo do espaço construído.

O sentido afetivo (...) é o que nos faz dar sentido à vida, por meio das relações entre nós e o ambiente em que vivemos. É ele sem dúvida o mais importante nas escolhas, conscientes ou inconscientes, do comportamento humano.
Além de ver o sujeito por intermédio de suas características físicas, é preciso vê-lo também como pessoa psicológica, nas suas várias dimensões, mediante as quais ele estabelece um contato com a realidade ambiental ou social. (OKAMOTO, 2014, pg. 162)

Foto: Acervo Pessoal
Encontramo-nos no mês de Março de 2020, em dias de quarentena por conta de uma pandemia. Com isso estamos vivenciando mais intensamente nossas casas. Estamos em casa o tempo todo, todo o tempo, fazendo todas as atividades possíveis.
A casa está mais viva do que nunca!!
Percebo que muitas pessoas tem uma relação com suas residências de forma rotineira, do dia a dia corrido, num entra e sai diário, não menos intenso, mas intervindo na casa de maneira cotidiana e corriqueira.
Agora nossa relação está sendo diferente. Nossa casa, além de ser nosso abrigo e proteção está sendo nosso espaço social, de convivência e expressão da nossa liberdade. E isso pode gerar algumas angústias e conflitos. (Ou não!! Lógico que depende de como você mora, com quem você mora, onde você mora... Se gosta de ficar sozinho ou se precisa de companhia...)
Resolvi escrever este texto porque tenho pensado nas pessoas que convivem em família, com duas ou mais pessoas, com a presença de crianças ou idosos morando todos numa mesma casa. Enfim, num espaço onde as pessoas estão se relacionando e interagindo com muito mais expressividade.
Quando a gente pensa num espaço vivencial, logo pensamos na organização desse espaço a fim de que todos possam desfrutar harmoniosamente. Mas nem sempre é fácil, porque idealizamos a casa como um lugar perfeito, impecável, disciplinado, como uma capa de revista e portanto, irreal.

(...) Isso não significa que você não possa ter um modelo para se inspirar, mas precisa diferenciar o que é ideal do que é real.
Com a nossa casa é a mesma coisa. Cada família tem necessidades de espaço e de organização diferentes, assim como rotinas e usos de cada cômodo que se distinguem entre si.
Uma pessoa que mora sozinha (...) tem uma casa organizada de forma diversa da família com cinco pessoas e uma rotina que envolve alimentar filhos pequenos. (GODINHO, 2016, pg. 14)

Com essa idealização da casa, a gente vai ao encontro do que se chama espaço simbólico, onde preenchemos os ambientes com ideias e valores pré-estabelecidos que alguém em algum lugar criou e nos influenciou. Como por exemplo que, a Sala de Estar precisa ser um ambiente sempre organizado, limpo, receptivo, com as almofadas nos devidos lugares onde as pessoas vão conversar de maneira cordial bebendo um bom vinho do Porto. Ou que, a Cozinha vai estar sempre limpa com a pia sem louça para sempre que quisermos podermos preparar aquele prato especial e a mesa ajeitada com uma fruteira bem colocada ao centro. E teremos tantos outros exemplos, não é mesmo?
E a sua casa, é assim? A casa da minha avó era assim!
Ainda bem que os tempos mudaram e continuam mudando. E agora, com essa experiência, que nunca passamos antes, de termos que ficar em casa isolados do mundo lá fora, é um ótimo momento para repensarmos nossa relação com o espaço vivencial do nosso lar.
Aqui em minha casa somos três. Eu, meu marido e minha filha de 9 anos. Cada um de nós tem um comportamento distinto dentro da nossa casa. Não tem como manter tudo sempre do jeito que eu idealizo, mas exponho meus desejos e peço atenção em manter os ambientes minimamente arrumados para podermos usufruir de nossa casa de modo afetivo e harmonioso, onde todos possam participar.
Eu já fui muito mais neurótica com organização e comportamento dentro de casa. Não tem como manter a casa limpa e arrumada o tempo todo. A casa é viva, assim como nós!
A gente se movimenta, a gente come, a gente produz lixo, a gente respira, sente cheiros, solta cheiros... Enfim, quando estamos num espaço vivencial, esse espaço vive com a gente e vive como a gente. Lembrando que cada pessoa que vive nesses espaços tem personalidade, comportamento, necessidade e escolhas diferentes, é logico que a casa irá reagir de maneira diferente, mesmo estando convivendo no mesmo local.
É esse sentido afetivo que damos a esse espaço vivencial o qual estamos inseridos é que fará diferença em nosso comportamento e sentimento nesses dias de quarentena, porque além de simplesmente vermos nosso familiar ou companheiro como pessoa apenas com características físicas, é importante vermos como pessoa psicológica, com escolha e desejos, como sujeitos que sentem o espaço, pensam o espaço, movem-se no espaço e vivenciam o espaço.

#FicaEmCasa
#EstarEmCasa

Beijos virtuais a todos e todas!!!
Annie

Referências Bibliográficas:

GODINHO, Thais. Casa Organizada. São Paulo:  Gente, 2016.

OKAMOTO, Jun. Percepção Ambiental e Comportamento. São Paulo: Mackenzie, 2014.