segunda-feira, 20 de abril de 2020

Trabalho Remoto X Home Office

*Texto publicado para Tópikos Espaço Profissional, por Annie Carrera.


Para que possamos entender e nos organizar em tempos de quarentena, fizemos esse texto para compreendermos a diferença entre Trabalho Remoto e Home Office.

Home Office não é a mesma coisa que Trabalho Remoto e vice-versa.

Home Office que traduzindo para o português significa “Escritório em Casa”, trata-se de um local onde profissionais executam suas atividades em sua própria residência. Por exemplo, um arquiteto ou advogado que possuem o escritório na própria casa e ali recebem seus clientes. O profissional não precisa se deslocar externamente para ir até o escritório, ele possui um ambiente reservado para as atividades profissionais em algum local de sua casa.

Já o Trabalho Remoto é aquele realizado à distância, mas não necessariamente precisa ser em casa. Pode ser executado em cafeterias, coworkings (escritórios compartilhados), hotéis, bibliotecas, livrarias, aeroportos e outros lugares que possuam internet. Por isso muitas pessoas que desenvolvem trabalho remoto não possuem um home office, ou seja, um escritório em casa.

Atualmente, devido ao momento da pandemia do coronavírus e a necessidade de quarentena, o Trabalho Remoto está sendo feito dentro das residências. Com isso percebemos que algumas pessoas estão desorientadas e superatarefadas com essa transferência do trabalho profissional para dentro de casa.

Quem já trabalha em Home Office talvez não esteja sentindo grandes transformações nessa quarentena com relação às atividades profissionais, a não ser o fato da necessidade de permanecer em isolamento social e restrições a acessos a serviços externos.

Para as pessoas que estão precisando trabalhar remotamente, talvez estejam se atrapalhando um pouco na rotina diária, por isso elaboramos algumas dicas de como trabalhar de casa.

Essas dicas são para aqueles que estão temporariamente com Trabalho Remoto e também para aqueles que a partir de agora queiram se instalar e trabalhar com um Home Office.

São apenas dicas, ok? Sabemos que cada um tem sua rotina trabalho e atividades diárias, mas só queremos ajudar!
  • É importante definir um local em sua casa para organizar seu espaço de trabalho. Como as distrações em casa são muitas, é importante separar o espaço de trabalho profissional das outras atividades da casa. Pode ser uma mesa num canto da sala, uma bancada no quarto ou se sua casa permitir pode ser até mesmo um ambiente destinado somente para escritório e/ou biblioteca.
  • Pense numa iluminação adequada para seu trabalho. Pode ser uma luminária de mesa, iluminação artificial ou um ambiente bem iluminado próximo a uma janela buscando a luz natural. E trabalhar em casa também precisa de luz do sol. Procure repor doses de vitamina D indispensáveis para a saúde do corpo.
  • Ergonomia. Procure ter uma cadeira e uma mesa que seja confortável e adequada à sua estrutura corporal. O computador precisa estar numa altura correta, que não precise alterar a postura da coluna e assim evitar problemas como dores nas pernas e nas costas.
  • Mantenha seu espaço de trabalho organizado. Mesmo trabalhando em casa é importante dispor de pastas e objetos para organização dos papéis e dos materiais de escritório. Crie sistemas de categorização. Nessa quarentena improvise com coisas que você tenha em casa, como, caixas, bandejas, porta lápis, pastas, etc. E não esqueça de organizar o Computador. Crie pastas para cada tipo de arquivo e assunto, assim tudo ficará mais fácil e dinâmico.
  • Definir horários para sua rotina é um dos itens mais importantes para o trabalho em casa. Criar um cronograma pré-definido com horário destinado ao trabalho profissional, trabalho doméstico, alimentação, estudo, lazer e momentos de descontração com a família. Novos conceitos estão surgindo. As empresas modernas não contabilizam a jornada de trabalho e sim as atividades executadas. E procure não estender seu horário de trabalho mais que o necessário, saiba separar vida pessoal e vida profissional.
  • A disposição pessoal faz toda diferença! Vista-se como se fosse sair para trabalhar ou fazer alguma atividade externa. Ficar de pijama dá uma preguiça... Cumpra com os horários de sono para que esteja sempre disposto e não se esqueça: beba água!
Não sabemos por quanto tempo ficaremos nessa quarentena. Por isso, cuide-se para conseguir lidar com o retorno ou... com uma mudança mais profunda da rotina como conhecemos hoje.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Nossa Cozinha


A cozinha como temos hoje, não é apenas um estilo, mas um processo histórico.

O Fogo

Elemento fascinante! Energia da vida.

A nossa casa, ou o nosso ambiente de abrigo surgiu graças ao fogo. Esse nosso reduto de proteção sempre se organizou em torno do calor.
Sabe-se que quando os homens deixaram de ser nômades e começaram a cultivar a terra, eles desenvolveram as atividades da culinária e da olaria (utensílios), os alimentos eram cozidos ao ar livre e o fogo era tido como um bem comum.
Mas manter o fogo sempre aceso era trabalhoso e feito por equipes e instrumentos criados para essa manutenção, como por exemplo, a invenção do Fole.
Vale lembrar aqui que o fósforo foi inventado somente em 1827 na Grã Bretanha!
Com o passar do tempo esse “fogo” foi levado para dentro das habitações e utilizado também como calefação, através de dutos subterrâneos, lareiras e chaminés, porém essa operação de aquecer e cozinhar criou vários inconvenientes. Como a fumaça trazia fuligem para a casa toda, as famílias mais abastadas construíam a cozinha numa edificação à parte da residência, independente do resto da casa.
A cozinha torna-se um lugar de serviço.

A cozinha brasileira

Quando os  portugueses chegaram aqui, trouxeram com eles inúmeros utensílios, desde fogões até tachos e chaleiras, inclusive o recurso da chaminé com a intenção de aquecer os ambientes. 
Porém, tão logo chegaram aos trópicos foram aos poucos incorporando a maneira indígena de cozinhar, na qual, sob uma cobertura rústica, acendia-se uma fogueira, apoiava-se o caldeirão sobre o fogo, agachava-se e começava-se a cozinhar. Eram essas ações que compunham nossas primeiras cozinhas brasileiras.
Por ser uma cozinha bem rudimentar, sem refrigeração, com animais de pequeno porte andando livremente, ficava localizada bem longe da casa, pois a noção de higiene não era a mesma que possuímos hoje.
Um tempo depois o fogão saiu do chão e se transformou em algo parecido com os fogões à lenha que conhecemos do interior do nosso país.

E a água?

A água é outro elemento indispensável na cozinha e depois de certa urbanização já estava começando a correr com mais facilidade. Foi no século 18 que as grandes cidades já contavam com aquedutos que despejavam água nos chafarizes públicos e era ali onde os escravos iam apanhá-la para o uso doméstico. Já no campo, eram implantadas canaletas de bambu do rio mais próximo até o quintal, tornando assim mais prático o trabalho diário.

Foi somente na segunda metade do século 19 que as transformações mais significativas para a arquitetura da cozinha brasileira começaram a aparecer e ficarem um pouco mais próxima do que temos ainda hoje.
Com a Revolução Industrial, as residências da elite do café, da borracha e do açúcar traziam as novidades vindas da Europa. Chegavam com certo atraso, mas chegavam.
Nessa época, surgiram na Europa os primeiros fogões a gás e, com isso, a cozinha ficou livre da fumaça e da fuligem. No Brasil, foi em 1901, no palácio do governo de São Paulo, que se instalou o primeiro fogão a gás de que se tem notícia, e a moda não demorou a pegar, aposentando de vez os velhos fogões à lenha.
No final do século 18 que surgiram os primeiros refrigeradores. Foi em 1860 que apareceram as primeiras geladeiras nos lares americanos. Não chegava a ser um eletrodoméstico e conforme descreve o arquiteto historiador Carlos Alberto Cerqueira Lemos,

“Eram armários de madeira, revestidos por dentro com cortiça e folha de flandres. Havia uma prateleira no alto, onde se apoiava a pedra de gelo (produzida em fábricas) comprada por assinatura e uma canaleta que conduzia a água do degelo para um balde. O entregador passava todo dia, bem cedinho, de porta em porta.”

A cozinha mais limpa

A torneira havia sido inventada em 1800, a construção da rede de abastecimento de água aos domicílios começou no Rio de Janeiro 76 anos depois e o surgimento dos ladrilhos hidráulicos laváveis para revestir piso e parede deixaram o preparo dos alimentos muito mais prático e higiênico e com isso não era mais preciso deixar a cozinha do lado de fora da casa.
A transformação da cozinha sempre esteve ligada aos métodos combustíveis.
Com a origem da energia elétrica, começou a era das facilidades, surgiram os primeiros eletrodomésticos: liquidificador, batedeira, torradeira. Aqui no Brasil, a primeira geladeira elétrica chegou em 1928. Então, a partir de 1930, solucionados os problemas de combustível do fogão e dos fornos, a cozinha começou a se adaptar em módulos e foi convertida em uma sala de máquinas com fogão, forno, geladeira, pia e armários. Isso tudo gerou muita transformação na arquitetura da cozinha, inclusive da brasileira.
Se até o começo do século 20 a cozinha era um lugar quente, desconfortável e de muito trabalho braçal, passou a ser um ambiente mais fresco e convidativo. Com isso, o comportamento da dona de casa também se modificou e ela começou a passar mais tempo ao redor do fogão. Por isso, a década de 1950 é o símbolo da nova cozinha, os eletrodomésticos foram popularizados e a arquitetura brasileira passou por uma grande transformação. Portanto, a cozinha se tornou uma extensão da sala de estar e surge assim a Copa Cozinha.

A cozinha da nova era

A cozinha então até podia ser bonita, porém ainda tínhamos a tradição de enxergá-la como um ambiente de serviço e, por isso, pessoas estranhas e de fora da residência não eram convidadas a conhecê-la. Esse comportamento permaneceria inalterado e começaria a desaparecer somente na década de 1980.
O que chamamos de “cozinha americana” tem como responsável o Forno Micro-ondas.
Ele foi inventado em 1946 e era comum nas casas estadunidense nos anos 1960, mas só entrou nas residências brasileiras em 1985. Então, com novos jeitos de cozinhar e não produzindo as mesmas sujeiras e odores, a cozinha não precisava mais ficar escondida!
Nos últimos 30 anos, a cozinha passou por uma revolução. De lá pra cá, com a inovação das cidades, o aperfeiçoamento industrial, a mudança nos hábitos de trabalho, automação e dinâmica profissional, a cozinha passou a ser ambiente integrado a outros espaços da casa.
Atualmente, os projetos arquitetônicos procuram compor sala de estar, cozinha e área de lazer num mesmo ambiente, porque momentos familiares, tarefas domésticas e convivência são compartilhados por todos os moradores. Os equipamentos contemporâneos são projetados a fim de proporcionar uma fácil manutenção, funcionalidade e estética. Hoje, o “calor” da cozinha é elaborado através de sensações das cores, iluminação, texturas e revestimentos, isso tudo graças à tecnologia dos materiais e evolução industrial.
Todos esses elementos juntos proporcionam essa integralidade com a casa inteira, incluindo a área externa: os Espaços Gourmets.
Um outro fator importante que podemos considerar para essa visibilidade da cozinha nos dias atuais é a função do Chef de Cozinha. Esse profissional da gastronomia conseguiu nos mostrar como pode ser prazeroso e divertido esse momento que se passa junto ao fogão. Todos nós queremos aprender com ele.
A arquitetura desfruta disso tudo e desenvolve novas ideias e conceitos para esse ambiente vivencial, desde o espaço construído até os designs dos objetos, conseguindo refletir a personalidade dos donos da casa. Essa personalidade e comportamento do morador são expressados através dos móveis, dos acabamentos, no estilo de cozinhar e na relação familiar.
A cozinha contemporânea, sendo em espaços grandes ou espaços pequenos, está integrada como ambiente social, ala de convívio, ela é o coração da casa e pode promover  união, aconchego e harmonia.

 A cozinha do Futuro

Daqui pra frente, a ideia da cozinha do futuro estará intrinsecamente ligada à tecnologia, automação e mobilidade, agregada sempre à evolução do maquinário, dos equipamentos e dos acabamentos.
Ao mesmo tempo que a cozinha se torna a protagonista da casa, fazendo-nos voltar no tempo e resgatar o desejo e a satisfação do cozinhar, ela vai ao encontro de uma novidade, que é esse convívio sociável dentro da cozinha. Ela deixa de ser somente um ambiente de necessidade e serviço doméstico e passa a ser também o espaço de prazer e lazer dentro de casa.

Por Annie Carrera
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Referências:

LEMOS, Carlos A. C.: Casa paulista, Editora EDUSP, 1999

ZABALBEASCOA, Anatxu: Tudo sobre a casa, E-book Kindle, 2020

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/galeria/em-imagens-a-historia-da-cozinha-no-brasil.phtml

https://fabiolastrauszinteriores.com.br/evolucao-da-cozinha/

ARQ.DOC - Ep 3 | Cozinhas: Arquitetura e Afeto, https://www.youtube.com/watch?v=XZSfm0tCToM&feature=youtu.be